terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Rascunho

A noite caia e eu estava sentada, na beira da praia. Meus olhos viajavam através das ondas do mar que quebravam agitadas, olhando mais além. Olhando para além do oceano, o infinito, imaginando o que poderia existir há quilômetros de distância.

Evito ser engolida por pensamentos todas as vezes que olho o horizonte, mas torna-se inevitável. O nariz inala o cheiro de liberdade, os pensamentos – independentes como são – se libertam e voam. Voam bem longe.
Uma boa música vem à tona com imagens. Um curta – ou longa – metragem dirigida pelos sentimentos. Se fosse possível, sentiria o conforto da barriga da minha mãe, nos meses de gestação. De como me sentia protegida por qualquer coisa, interna ou externa. Mas nunca fui fã de proteção fraterna, então, me libertei – NASCI! Não que eu tivesse várias opções, mas prefiro pensar como tal. Desde meu primeiro choro, no mundo real, escolhi viver. E desde então, vivi. Até hoje. E amanhã, talvez. Viverei.

Mudo a música. Passo a fase – da vida. Cada ano, um aprendizado. Nascem as primeiras palavras e os primeiros passos, não sei se exatamente nessa ordem. As roupas são perdidas rapidamente, e eu cresço. É natural. Conheço areia, mato e árvores. Conheço também que as melhores frutas, são as de cima da árvore. Com isso, conheço cicatrizes. Conheço pequenas broncas, conseqüentemente. Conheço a água, e a arte de flutuar sobre ela. As braçadas que nos levam a movimentar-se. Conheço a natação.
Conheço a leitura, e filmes. E a cada dia conheço algo novo no mundo. E fico maravilhada. Quando fui apresentada ao mar, me apaixonei. Foi amor à primeira vista – meu e dele! Em todas as tentativas de caminhar para a areia seca, era chamada novamente para as ondas. E eu me permitia mais um mergulho. Até que consegui vencê-lo, e o convenci que voltaria sempre. Achei que jamais me apaixonaria da mesma forma que me apaixonei pelo mar.

Novamente, mudo a música. Outra fase. Aprendi que correr é bem melhor que andar. Pelo fato da rapidez e de sentir o vento da liberdade. Mas logo em seguida aprendi que correr muito rápido pode não ser muito bom. E isso me fez raciocinar que liberdade vem com o tempo, nada de muita pressa. Corri quase caminhando de encontro com o incerto. Descobri que há possibilidade de borboletas morarem em meu estômago e causarem sensações estranhas, mas não menos interessantes. Descobri o encanto. A sensação de algo me chamando sem pronunciar uma palavra e então, aproximava com cautela. Desconfiada. Tive certeza do encanto quanto não podia esquecer um rosto, onde sempre o buscava na minha doce inocência. Sinto-me como atraída pelo mar, mas não me permito o mergulho. Como se não pudesse nadar nessas águas. Recuo, e retorno a posição inicial, observadora. E descubro a partida. A saudade. A esperança.

Agora a música muda sozinha. E então, conheço a negação. Conheço a hipocrisia. Convivo com coisas que não me identifico, e conheço o medo. O medo de estar errada. E então, sou apresentada inconscientemente para as tentativas. Para a obsessão de ser quem não sou. Sou entregue como se fosse o último suspiro. Penso que está tudo bem, mas então, conheço o teatro. Conheço, principalmente, a personagem que encarnei sem perceber. Vejo o quão fictícia é a minha realidade, e tiro a máscara.

Fecho a cortina e me sinto um feto. Aquele mesmo que não se sentia confortável com a proteção da barriga e então, abro a cortina! Nasci novamente. Fui apresentada novamente a todas as fases. Aprendi a caminhar novamente, em territórios desconhecidos. Hoje, falo uma nova língua. Penso com uma nova cabeça. Depois de caminhar, resolvo correr. Vou com pressa, novamente. O anseio de algo que desconheço é muito grande. Tropeço, da mesma maneira. Afinal, estou reaprendendo. Revivendo. Porém, me levanto mais rápido dessa vez, e vejo que devo caminhar, apenas.

Uma nova – e muito linda! – música começa a tocar. Caminhando, sinto uma vibração que vem de encontro comigo, completando meus movimentos. Sentia-me atraída por todos os detalhes. Uma energia me puxava, até que fui devorada por seu olhar. O sorriso e as primeiras palavras devoraram meus sentidos. No mirar de sua retina reconheci o brilho. O mesmo brilho que me encantara tanto, e que fugi. Aquele que despertou as borboletas anteriormente. Fez o mesmo no exato momento em que reconheci. E então eu soube que havia encontrado a razão. Reencontrado.
A abracei. E na tentativa de separar nossos braços, me permitia um novo mergulho. A pequena separação parecia insuportável, e tudo nos ligava. Mergulhei inconscientemente novamente. E foi difícil manter-me levemente afastada. E então, consegui vencer-me. E a convenci - assim como a mim mesma – que estaria sempre ali.

O entardecer tornou-se breu, e eu estava em frente ao mar, vagando com meu pensamento. E quando achei que jamais me apaixonaria da mesma maneira que me apaixonei pelo mar, eu a conheci. A primeira e a segunda vista. E eu estava segura. Tranqüila. Para ele, eu sempre voltaria. E para ela – ah! – para ela eu estarei sempre aqui.

2 comentários:

  1. poo baita conto! Muito bom.

    Bastante aprendizados e divagações.

    Essa é a vida, feita de aprendizado e paixões. Seja o mar, as estrelas ou um cachorro. Amando e aprendendo, é assim q a vida deveria ser levada

    Mas gostei muito das reflexões, tenho certeza q quem ler, vai acabar se identificando com alguma delas.

    Bjss

    http://www.estilodistinto.com/

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  2. ah, faltou dizer q me identifiquei com esse paragrafo aki: Agora a música muda sozinha. E então, conheço a negação. Conheço a hipocrisia. Convivo com coisas que não me identifico, e conheço o medo. O medo de estar errada...

    Bjs

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